O agronegócio brasileiro é um dos pilares da economia nacional, reconhecido mundialmente por sua produtividade e capacidade de alimentar o mundo.
No entanto, por trás dos números impressionantes, existe um desafio persistente que corrói a competitividade e a margem de lucro dos produtores: o chamado “Custo Brasil”.
Este termo, que se refere ao conjunto de dificuldades estruturais e burocráticas que encarecem a produção e o investimento no país, impacta diretamente o setor agrícola.
Diante dessa realidade, neste artigo, vamos explorar os cinco principais fatores do Custo Brasil que pressionam a margem do agronegócio, e como eles afetam a rentabilidade e o desenvolvimento do campo.
1. Custo Logístico: O Peso da Infraestrutura Deficiente
Um dos maiores entraves para o agronegócio brasileiro é o elevado custo logístico.
Isso ocorre porque a vasta extensão territorial do país, aliada a uma infraestrutura de transporte ainda precária, resulta em fretes caros e perdas significativas na cadeia de escoamento da produção.
Em particular, a dependência excessiva do modal rodoviário, com estradas em condições inadequadas, aumenta o tempo de viagem, o consumo de combustível e os custos de manutenção dos veículos.
Para se ter uma ideia, o custo do frete da soja no Brasil pode ser até 82% maior do que nos Estados Unidos e 46% maior do que na Argentina.
Esse cenário é agravado pela falta de investimentos em ferrovias, hidrovias e portos eficientes, o que força os produtores a arcarem com despesas que comprometem sua margem de lucro, especialmente em regiões mais distantes dos centros consumidores e portos de exportação.
Além disso, a capacidade de armazenagem insuficiente leva à perda de produtos e à necessidade de escoamento rápido, muitas vezes em condições desfavoráveis.
2. Carga Tributária: Um Labirinto de Impostos
A complexidade e a alta carga tributária são outros fatores que pesam sobre o agronegócio.
De fato, o sistema tributário brasileiro é conhecido por sua burocracia e pela multiplicidade de impostos, taxas e contribuições, tanto em nível federal, estadual quanto municipal.
Consequentemente, isso gera um emaranhado de obrigações fiscais que exige das empresas e produtores rurais um alto investimento em planejamento tributário e conformidade.
Embora o agronegócio tenha algumas isenções e regimes especiais, a carga tributária ainda é considerável e impacta diretamente os custos de produção, desde a aquisição de insumos até a comercialização dos produtos.
É nesse contexto que a discussão sobre a Reforma Tributária, que busca simplificar o sistema e reduzir distorções, é vista com esperança pelo setor, mas ainda há incertezas sobre seus impactos reais na margem de lucro dos produtores.
3. Burocracia: O Freio do Desenvolvimento
A burocracia excessiva é um obstáculo constante para o agronegócio no Brasil.
Isso se manifesta, por exemplo, na morosa obtenção de licenças, registros, alvarás e na necessidade de conformidade com uma infinidade de regulamentações ambientais, sanitárias e trabalhistas, processos que consomem tempo e recursos preciosos dos produtores.
Toda essa lentidão, somada à falta de padronização nas exigências dos diferentes órgãos governamentais, acaba por criar um ambiente de incerteza que dificulta o planejamento e a expansão dos negócios.
Além disso, a complexidade burocrática não apenas eleva os custos operacionais, mas também desestimula investimentos e a inovação no setor.
Na prática, muitos produtores, especialmente os de menor porte, enfrentam grandes dificuldades para navegar nesse cenário, o que pode levá-los a desistir de buscar crédito ou de expandir suas atividades, limitando, por conseguinte, o potencial de crescimento do agronegócio brasileiro.
4. Custo de Capital: O Acesso Caro ao Financiamento
O acesso a crédito e o custo de capital são desafios significativos para o agronegócio.
Isso porque as taxas de juros elevadas, a burocracia para obtenção de financiamentos e a exigência de garantias, muitas vezes inacessíveis para pequenos e médios produtores, dificultam o investimento em tecnologia, infraestrutura e expansão da produção.
Apesar da existência de linhas de crédito específicas para o setor, como o Plano Safra, a demanda por recursos é alta e nem sempre é totalmente atendida.
Como resultado, a dependência de financiamentos bancários tradicionais, que podem ter condições menos favoráveis, impacta diretamente a capacidade de modernização e a competitividade do agronegócio, setor que, afinal, precisa de capital para se manter atualizado e produtivo.
5. Mão de Obra: A Escassez de Talentos Qualificados
Embora o agronegócio brasileiro seja um grande empregador, o setor enfrenta um desafio crescente: a escassez de mão de obra qualificada.
Esse cenário se deve, em grande parte, à modernização do campo, que, com a introdução de novas tecnologias e máquinas, passou a exigir profissionais com conhecimentos específicos em áreas como agricultura de precisão, biotecnologia, gestão e operação de equipamentos complexos.
Além disso, a falta de investimentos em educação e capacitação profissional no meio rural, aliada à migração de jovens para os centros urbanos, cria um descompasso entre a demanda do mercado e a oferta de trabalhadores com as habilidades necessárias.
Como consequência, os custos para a contratação e o treinamento se elevam, o que impacta diretamente a eficiência e a produtividade das operações agrícolas.”
Conclusão
Fica claro, portanto, que o Custo Brasil é uma realidade que impõe desafios consideráveis ao agronegócio, pressionando suas margens e limitando seu pleno potencial.
No entanto, a superação desses obstáculos exige um esforço conjunto do setor produtivo, do governo e da sociedade, focado em promover reformas estruturais, investir em infraestrutura, simplificar a burocracia, facilitar o acesso ao crédito e qualificar a mão de obra.
Somente assim, ao enfrentar esses desafios de forma estratégica, o agronegócio brasileiro poderá não apenas garantir sua competitividade no cenário global, mas também consolidar seu papel como motor do desenvolvimento sustentável do país, gerando mais empregos, renda e segurança alimentar para todos.
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